O pássaro

As águas de março começaram a cair, e aqui, eu penso por vezes estar presa em dezembro de 2020. Não por acaso ontem vi uma reportagem sobre Wuhan, onde os primeiros casos da Covid-19 foram registrados, enquanto o resto do mundo estava pouco atento. Um ano passou, a sensação é que vivemos, ou tivemos um

Ensino remoto, remoto controle…

Durante o período da pandemia da Covid-19 uma das coisas que ainda mais me inquietam objetivamente é o cotidiano das práticas de ensino-aprendizagem. Trabalho diretamente com educação, e entendo que esse contexto é por si só muito impactante. E o campo da educação é um dos que demandam grande atenção. Vez por outra nos ambientes

Fevereiro cinza

Eu nunca havia vivido um fevereiro tão estranho. Não sou carnavalesca, nunca fui, mesmo gostando das sonoridades. O fato é que os dias me parecem atualmente estranhos. Especialmente nesse segundo mês do ano. Sei que por um lado achava o Carnaval um excesso de alegria, contagiante, enebriante e por vezes uma grande ilusão. Pulsante, ali

Vacinação

Não me lembro de haver pensado tanto em vacina quanto em 2020. Embora a vacinação sempre tenha feito parte das nossas vidas. Quem na década de 1970 como eu nunca deixou de lembrar da pistola icônica que furou nossos braços magrinhos, nem apagou do corpo as marcas deixadas por catapora, para quem a contraiu na

A mata da barreira

Há quase seis anos moro próximo de um pedaço muito pequeno de Mata Atlântica. Toda vez que olho as fotos do lugar em que moro, nos grupos de fotos antigas da cidade, me dá uma dor e uma dó tremenda. De que todo o esplendor natural tenha se transformado em pedaços de concreto. Mesmo que

Um banho no mistério

Quando entro no quarto de banho penso nos rituais das mulheres orientais dos muitos filmes israelenses, palestinos, iranianos que vi ao longo do tempo. Momento ritual, purificação. Lembro também dos cenotes do México, das cachoeiras em que pude me banhar, das imagens das lavadeiras à beira do rio, e dos riachos que umedecem as paisagens

Nina

Há doze anos que Nina me transformou num puf. Isso começou em 2008 quando chegou em nossa casa. Naquele período foi o alento para dois adultos escrevendo teses de doutorado, e para uma criança com apenas seis anos. Cabia na mão, e se pensar bem, cresceu muito pouco. De lá para cá ela me humanizou

Sementes de papel

Tento chegar em 2021, me desvencilhar um pouco do resquício do cordão umbilical de 2020. Mas tenho a sensação de que enquanto a vacina não chegar para todos e todas haverá sempre Covid-19 à espreita. E por isso sigo construindo umas rotas de fuga. Final do ano, recebi da TAG Experiências Literárias, a primeira edição

V no país sem vacina

A desinformação é o que faz V. ser tão odiada. Mas não é apenas isso. Embora seja uma grande contradição, ao longo da história V. vem sendo reprimida, violentada e por vezes exterminada. Há quem também sinta nojo de V. Embora continue sendo ela muito, muito desejada. Há de tudo na história de V. De

Feminicídio estrutural

É com muito pesar que digo o óbvio: o Brasil é feminicida, porque o feminicídio é estrutural. E, em que pese alguma exceção, que se manifesta contra o extermínio de alguma mulher – especialmente a depender do status social dela – são raras as instituições que de fato agem cotidianamente para superação do padrão cultural