Hoje é Dia dos Mortos, Finados, dia após o Dia de Todos os Santos. É segunda-feira. Aprendi melhor sobre a finitude da vida indo ao cemitério. Foi há algum tempo atrás, na minha infância.
Era levada por minha mãe para rezar junto ao túmulo da minha avó. Era um ritual. Nestas idas e vindas à Casa dos Mortos me chamava à atenção as flores que nasciam no lugar, as borboletas, os pés de manjericão e de modo muito particular as fotografias. Amava ver as imagens, pois era como adentrar num portal em busca de um tempo que nunca me pertenceu e do qual pouco, muito pouco saberia.
Estas coisas me tiravam o temor em observar as Casas Desabitadas que eram os mausoléus. Apesar dos momentos solenes da oração, do silêncio das lágrimas saudosas, havia também a possibilidade de brincar no labirinto entre as covas, correr no Cemitério, brincar de esconde-esconde.
Quando a infância por mim passou deixei de correr nestes labirintos, mas sobraram os momentos solenes de oração e lágrimas saudosas, permaneceram as imagens imortais e também o sentido sobre a vida e morte.
Ao assistir Volver, filme do Almodóvar, reencontrei-me com este momentos do meu jardim secreto de memórias e quando li sobre a vida de Frida Kahlo compreendi melhor porque o Dia de Finados era, apesar da morte, tão divertido. Quer no México ou em Patos, sertão da Paraíba, permanecia de certo modo, no inconsciente coletivo, a percepção de que morte e vida não são assim tão irreconciliáveis.
E o Dia de Finados, afinal, era um momento de preciosos encontros: entre pessoas de um mesmo lugar, de gente que há muito tempo não se via, entre desconhecidos, amigos, inimizades (onde o perdão tornava-se até algo possível), amores… dia de compartilhar o pão, momento de multiplicar-se.
Oi. Sempre apareço aqui no seu blog. Sempre uma paradinha para reflexões necessárias…