Desde cedo fui defrontada com a necessidade de lugares secretos, imaginários ou concretos, enquanto territórios vitais, espaços de sobrevivência simbólica. Algo assim como o asteróide B612, para o Pequeno Príncipe, ou como o quarto descrito por Virgínia Wolf. Ultimamente me delicio con mis classes de español, na UFCG. É na Sala 4 que semanalmente me permito atravessar um portal que rompe meu cotidiano apressado, e me possibilita mergulhar em direção a uma esfera imaterial repleta de sentidos.
Estas aulas são hoje meu realismo fantástico em que a experiência de aprender/viver um idioma estabelece uma conexão profunda com um desejo de sobrevivência constante e resistência possível à automação da vida. Nestas curtas 4 horas semanais observo meus colegas, seus sorrisos, diferenças, trajetórias, acentos, estilos, liberdade, pois somos um pouco mais nós mesmos vinculados por uma língua distinta que constrói laços…
O aprendizado ali inclui o demasiado humano, as nuances, as emoções, a humildade em reconhecer o não saber, a curiosidade para entrar na toca do coelho (tal qual Alice no País das Maravilhas), e seguir tecendo novas jornadas de um conhecimento lingüístico, que é racional, mas, complexo, o transcende.
É nesta transcendência de mis classes de español que respiro mais, sorrio mais, me coloco em contato com outras redes de significação através do diálogo com meu professor Misael, meus colegas, e, sobretudo comigo mesma, com minhas vontades.
Descubro novos sons como Buika, Bebe, Diego Torres, revejo Almodóvar, escuto novamente meus CDs de Inti Illimani, Pablo Milanez, Fito Paez, Mercedes Sosa, Buena Vista Social Club, Gotan Project e Los Tres. Troco idéias com Pilar Roca, Montes-Bradley e Jorge e Mônica Gonzalez. Retomo minha correspondência com minha querida amiga Coca Trillini. Descubro os Irmãos Vargas, suas fotografias em Arequipa(como esta que ilustra este texto), no início do século passado. Me delicio com o cinema hispânico e latino-americano, percebendo novas visualidades, entrando e saindo de universos particulares e de realidades que são pouco retratadas nos jornais e TVs.
Viajo também no tempo ao lembrar meus primeiros contatos com o idioma através da escuta das músicas do Menudo, em espanhol. Da minha viagem travessa para conhecer à fronteira do Brasil com a Bolívia, e as diferentes travessias pelo Chile, e a visão de parte dos Andes, observar de cima los cumbres, dormir entre as montanhas e banhar-me nas águas geladas da Cordilheira.
Neste portal sagrado que são mis classes de español o desejo presente de mochilar me devora, me reconecta com as paisagens que se Deus permitir, ainda quero trilhar porque de fatos são estes meus profundos exercícios de ver tantos mundos que uma língua se esforça para traduzir. Experiência de sentido, luz e mistério.
Ao meu professor Misael e aos colegas do Espanhol II
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