Antes que as primeiras medidas no enfrentamento à pandemia do Covid-19 viessem à tona, jornalistas no mundo inteiro se desdobravam para o entendimento da conjuntura internacional, num cenário complexo de uma catástrofe de escala global, com o advento da presença, disseminação e enfrentamento ao Coronavírus.
Não é de hoje, na história da humanidade, especialmente a partir da modernidade, que a rotina de produção social das notícias é parte vital do cotidiano. Antes da tipografia, a transmissão oral, as cartas, o trovadorismo palaciano e ambulante, os cafés, a escrita, o pasquim, a gazeta-a-mão. Com o invento de Gutemberg a imprensa cria outros contornos, e vai ocupando cada vez mais centralidade com a massificação da cultura. Comunicação-cultura seguem juntas. Linguagem e técnica também. O midiático sempre exerceu também sedução, e esteve sem sobra de dúvidas vinculado ao Poder, sendo também uma forma de exercício do mesmo, pela institucionalização de seu lugar de fala na democracia, mas por outros fatores também.
Com as transformações nos modos de produção, pelas novas tecnologias, o mundo das notícias, como todas as outras cadeias produtivas materiais e simbólicas foram alteradas. E passam diariamente por transformações profundas. No caso do Jornalismo nos colocando diante de uma maior velocidade nas rotinas de trabalho, ao lidar com a cultura de convergência e com as exigências de um mercado que mascara muitas vezes a exploração dos trabalhadores da informação (homens e mulheres) através do discurso de adaptação a volatilidade do mercado com a consolidação da mídia digital. A economia digital global rasgou o véu da segurança e muitas vezes da dignidade do mundo do trabalho para quase todas as profissões, e com o Jornalismo não foi diferente.
Jornalista é jornalista. Blogueiro, digital infuencer, coach, âncora de programa policial, apresentador de rádio e TV, gestor de mídia social, social mídia, não representam necessariamente o trabalho que um profissional do Jornalismo faz diante das exigências historicamente delineadas por seu campo de atuação, no trabalho diário de selecionar, hierarquizar e divulgar informações a partir de critérios rígidos de apuração, investigação e constituição de narrativas sobre o real. Representar o real é um de nossos grandes desafios, todo dia, a partir de critérios seriamente estabelecidos socialmente, que regulam nossa profissão.
Claro, há quem ache que a presença das novas tecnologias colocaram isso abaixo. Reconhecemos o nível de precarização pela qual atravessou e atravessa a profissão, como tantas outras. Todavia continuo considerando que ter um celular, uma câmera, um gravador, computador de última geração, não vai fazer de ninguém um bom profissional de imprensa. Recentemente ao ver Sebastião Salgado falar numa entrevista sobre seu último trabalho amplo como fotojornalista, percebi o tamanho da dignidade e consciência dele sobre o que representou e representa a presença dos fotojornalistas e jornalistas na história humana, agindo em função do interesse público, da democracia e dos direitos humanos.
Nesse período de rota crítica da Humanidade, em virtude da pandemia Covid-19, reafirmo cada vez mais a atividade laboral de jornalistas como essencial, embora como profissionais enfrentemos, no tempo presente, a ignorância, a cegueira e embrutecimento nas relações sociais que tentam, a todo custo, atacar e gerar descredito e desvalorização dos profissionais, do que fazemos.
O enfrentamento diário da pandemia passa pela cultura de informação, mediada por profissionais de imprensa, no mundo inteiro, muitos dos quais, por exposição adoeceram, e foram ainda vítimas de ataques. A política modulada pela cultura digital, por mais que tente, não vai erradicar a necessidade da mediação dos jornalistas na Esfera Pública. Embora a cultura digital desafie modelos existentes de “público” e “privado”, a mediação do campo jornalístico nos dá suporte para lidar com a complexificação do social, ou sua simplificação, no sentido de seu empobrecimento.
Jornalistas no mundo inteiro, mesmo adaptando em parte sua rotina de trabalho, continuam agindo ativamente para garantir informações precisas no campo da saúde pública, estruturando pautas de qualidade que contribuem para organização da vida social.
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